segunda-feira, 6 de junho de 2011

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

Roda de Contação de Histórias/ Narrativas Orais



Bete Godoy

“Um contador de histórias tem a necessidade de ver as palavras pularem do papel e se mexerem dentro das pessoas, de preferência na vida de todos os dias.

...Somos nós os protagonistas, é a nossa própria história que contamos enquanto vivemos o relato exemplar. Enquanto estamos dentro do conto, experimentamos a certeza de que valores humanos fundamentais como a dignidade, a beleza, o amor e a possibilidade simbólica de nos tornarmos reis permanecem vivos em algum lugar dentro de nós...(Regina Machado p.15).”

Quando, ouvimos um conto, temos uma experiência única, singular, no momento da narração, uma construção imaginativa se organiza fora do tempo real.

Contar histórias é uma arte milenar que encanta crianças, jovens e adultos.

Na educação infantil, tem presença garantida nos momentos de roda. Reconhecendo a sua importância no desenvolvimento da linguagem verbal convidamos a professora Neusa D’Onofrio para participar de um bate-papo afim de incentivar os professores a planejarem boas práticas de “contação” de histórias/narrativas orais.



Contadora de Histórias

Neusa D’Onofrio

Bete:Por que as crianças gostam tanto de ouvir histórias?
Neusa: Acredito que haja várias razões. Dentre elas, a possibilidade de sonhar que a história oferece. É um momento em que se entra em contato com o que é mais pessoal, mais privativo do ser humano. Daí, o gosto pelas narrativas tradicionais, que tanto encantam as crianças.

B:O que o professor precisa saber para contar história?
N: Primeiramente, o professor precisa gostar de contar histórias. O gosto o leva a aprimorar a percepção e com esta ele pode escolher aquilo que melhor se adequar a um determinado público ou momento. Tudo isso não dispensa a leitura de boas obras literárias. O professor precisa conhecer as narrativas para tê-las em mãos e fazer uma boa escolha. É necessário aprimorar o conhecimento. Quanto mais leituras realizar, melhor estará preparado.

B:Quais os cuidados na seleção do texto?
N: Só podemos ter cuidado ao selecionar o texto, quando temos um bom repertório. Há necessidade de parâmetros. Escolher um bom texto, cujas partes estão bem articuladas, é fundamental. Outra observação é no que se refere aos elementos intrínsecos à história. Que valores ela me passa? Devemos tomar cuidado com histórias estereotipadas, que simplificam as ações das personagens, destituindo-as da condição humana. Como exemplo poderia sugerir a comparação da história da Cinderela dos Irmãos Grimm com a do Disney. Naquela, a moça passa por várias provas até conseguir ir ao baile; enquanto nesta (Disney), surge apenas uma fada madrinha, sem que para isso Cinderela precise enfrentar desafios. Acredito que a vida exige de nós, humanos, a superação das dificuldades, a fim de crescermos. Boas histórias falam de humanos.

B:Quais os critérios na seleção dos materiais?
N: Se optarmos por usar materiais no ato da contação, devemos ter cuidado para não torná-los mais importante do que a própria história. O exagero pode focar a atenção para os materiais. Se na história houver rei, rainha, príncipe, princesa, fada e bruxa não há necessidade de buscar a representação de todos. Devemos perguntar: qual é o elemento principal dessa história? Se for a princesa e o príncipe, bastaria um material para cada um; por exemplo, para a princesa um leque ou um tecido, ou qualquer outro objeto, que possa representá-la. Se a princesa for delicada, qual a cor e a textura que lhe daremos? Há histórias em que os espaços são mais significativos do que as personagens. Então busco algo que possa dar a verdadeira dimensão de cada lugar.

B:O que significa selecionar materiais da mesma família?
N: Certa vez vi uma contadora que usava materiais de uma mesma família: carretéis de linha, agulha e tesoura. Teve um momento em que tive de contar a história da mandioca. Como é uma lenda indígena, busquei materiais que se sintonizassem. Optei por uma peneira e potes de palha, um sino de vento de bambus e o polvilho da mandioca. Esses dois exemplos mostram que o importante é casar os materiais, proporcionando harmonia. Como também posso optar por um leque e um colar. Eu diria que é da mesma família? Mais do que isso: eles podem se combinar na história. A prática fará o contador ter uma boa percepção e escolha.

B:Qual a importância do ambiente?
N: O ambiente dará um clima à história. Muitas vezes dispomos os objetos que são utilizados no ato da contação, de tal forma que se cria um ambiente. Ele fará parte da história. Então passa a ser dinâmico e interage com o restante.


B:Qual a diferença entre cenário e ambientação?
N: O cenário é algo estático, que muitas vezes serve apenas para representar um determinado espaço. Ele acaba não interagindo com a história; diferentemente da ambientação, em que ela passa a fazer parte. Conto uma história cujo rei quer casar as três filhas. Diante disso, ele manda seu embaixador levar o retrato de cada princesa: a primeira ao Norte, a segunda ao Sul e a terceira ao Oeste; porém, neste último espaço, o rei não aceita se casar com a princesa. Só no Leste é que haverá o encontro entre o monarca e a terceira princesa. Utilizo quatro bancos, sinalizando as quatro direções. Em cada banco coloco um echarpe, correspondendo a uma princesa. Com são três, um banco fica desocupado, devido à trama do conto.

B:Antes de contar histórias devo ou preciso falar do que se trata? Falar o título?
N: Depende do momento. Não há regra. Há situações em que se aborda alguma questão que teria haver com a história; então vale a pena essa antecipação. Há outras ocasiões, em que se começa a contar e vai aos poucos chamando a atenção do ouvinte, encantando-o, para que ele tenha o prazer de descobrir e/ou se descobrir aos poucos.

B:Posso contar uma história com finalidade pedagógica?
N: Claro que podemos; porém nunca devemos submeter à história ao conteúdo pedagógico. O próprio ato de contar já leva o aluno a muitas reflexões que podem surgir em diversos momentos. O bom senso do professor o levará à escolha da melhor ocasião.


B:Posso contar histórias sem utilizar materiais?
N: Com certeza. Aliás, devemos nos valer de outros recursos, como a voz, o olhar e o corpo. Como eu disse anteriormente: a história deve sempre estar em primeiro plano.

B:Contar histórias manipulando objeto pode ser difícil para os que ainda não têm essa habilidade desenvolvida? Qual a dica que você daria para quem inicia este trabalho?
N: É só experimentando que vamos conseguir manipular os objetos. O melhor é iniciar com um só. Conto uma história em que uso apenas um leque, aberto para representar a princesa e fechado, para o príncipe. Devemos ter muito cuidado com o exagero.

B:Depois de contar preciso conversar com as crianças sobre a história?
N: Tudo dependerá do objetivo traçado. Se for apenas com o intuito de proporcionar um momento de magia, deixem que levem em seu coração a história contada. Do contrário, a conversa pode acontecer. Muitas vezes as próprias crianças tomam a palavra. Isso é ótimo!

B:As crianças podem participar no momento da narração?
N: Há sim a possibilidade de propor uma interação: fazer perguntas sobre um dado momento na história, interromper a narrativa e pedir que elas completem, enfim, há várias maneiras de as crianças participarem.


O link abaixo apresenta um programa gravado na all TV (todos os sábados da 10:00 as 12:00) apresentado por Elaine Gomes e Neusa D’Onofrio é uma das convidadas.
Neusa conta duas história e tece comentários sobre quais foram os critérios e cuidados na seleção do texto, na escolha dos materiais e no momento da apresentação.

O vídeo de tem duração de 50 minutos e é um excelente material de estudo nos momentos de formação e pode ser dividido em partes para ser assistido.


Que história é essa?
Acesse: www.vimeo.com/20290836

Telefones de contato de Neusa D’Onofrio para cursos e palestras:
(11)2957-1659
(11)8139-4166

Email: neusaonofre@yahoo.com.br

Curso: Contadores de Histórias


Formadora: Neusa D’Onofrio
Local: ZiarteViveka-SP


Professores que participaram do curso:
Bete, Jeniffer, Carla, Adriana e Teresinha- DRE -São Mateus

Bibliografia:
Machado, Regina.Acordais fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que pena não ter feito esse curso, mas valeram as dicas.
Contar é encantar e ser encantado.
Beijão, GÊ.

Discípula de Jorge Ben Jor disse...

Sem dúvida alguma contar histórias é MARAVILHOSO, tanto para quem conta como para quem ouve. Amei a matéria e sem dúvida alguma veio acrescentar muito à minha prática pedagógica e acima de td à minha postura ao contar histórias.
Parabéns e Obrigada!!!!!

abçs,
Professora Maria Noemia

@jjchicoli disse...

amei o artigo..a arte de contar historias pode ser aprimorada sempre!! bjs Jana @jjchicoli