segunda-feira, 27 de junho de 2011

LIVRO SEM TEXTO

                                                                     Bete Godoy

Chamado de “livro de imagem, álbum de figuras, álbum ilustrado, história muda, história sem palavras, livro de estampas, livro de figuras, livro mudo, texto visual” ...(CAMARGO, 1998) é muito utilizado pelos professores, em especial na educação infantil.

O primeiro livro sem texto publicado no Brasil foi “Ida e Volta”, de Juarez Machado,  em 1976, pela Editora Primor. Desenhado em 1969 e publicado na Europa em 1975. Um rápido comparar de datas já nos leva a concluir que este tipo de livro teve que vencer algumas barreiras antes de ter o seu valor reconhecido no meio literário.


Literário... sem texto?

Segundo Fanny Abramovich: “Ao prescindir do verbo, dão (os autores) toda possibilidade para que a criança o use... oralizando estas histórias, colocando um texto verbal, desenvolvendo algumas das situações apenas sugeridas (personagens que aparecem apenas como figuração, como elemento de perturbação do todo ou para salientar um momento ou uma possibilidade insólita), ampliando um detalhe proposto e daí refazendo o todo, de modo novo e pessoal...Criando uma história a partir duma cena colocada, misturando várias, musicalizando alguma relação, sonorizando uma descoberta feita, inventando enfim as possibilidades mil que narrativas apenas visuais (quando inteligentes e bem feitas) permitem e estimulam...(...).Estes livros são sobretudo experiências de olhar...De um olhar múltiplo pois se vê com os olhos do autor e do olhador/leitor, ambos enxergando o mundo e as personagens de modo diferente, conforme percebem esse mundo.” (ABRAMOVICH, 1989).

Esse tipo de livro é de grande importância para a criança, pois a torna coautora da obra, criadora de um texto verbal e até mesmo de outros textos visuais.

A imagem tem papel fundamental nos livros infantis. Os livros sem texto primam pela exploração deste elemento e tentam potencializar, não somente o poder das imagens, mas também, em muitos deles, da materialidade do livro em si.

Vivendo num mundo cada vez mais visual em que somos "atingidos" por imagens a todo instante, despertar e sensibilizar o olhar para os detalhes é uma forma de tornar o leitor mais atento ao mundo em que vive.  Proporcionar às crianças desde pequenas o contato com esses livros é potencializar a aprendizagem da leitura das imagens (Valéria de Oliveira).


Na hora de escolher um bom livro de imagens não vale apenas achar as ilustrações "bonitas". É necessário que haja um projeto literário e artístico para que esses livros possam despertar verdadeiramente o leitor que não precisa ser necessariamente a criança.

Apontamentos importantes:


“(...) não basta apenas a boa vontade do docente, o professor precisa receber fundamentação teórica e prática para formar o leitor de imagens, uma vez que “ninguém facilita o desenvolvimento daquilo que não domina, nem promove a aprendizagem de algo que não teve a oportunidade de conhecer”. Almeida (2003, p .9).

  • A leitura de livro sem texto é destinado a qualquer faixa etária.
  • É um estilo literário que estimula a leitura de imagens.
  •  Leitores convencionais ou não, podem participar da leitura. É um equívoco afirmar que são livros destinados apenas aos que ainda não dominam o código lingüístico.
  • Escolha boas ilustrações.
  • Ilustrações confusas para a faixa etária dificultará a leitura.
  • O professor deve ler a história antecipadamente com atenção e pensar nas possibilidades de interpretações.
  • O momento da leitura deve ser bem planejado.
  • O professor deve ter claro quais são só objetivos da leitura de um livro sem texto dentro do trabalho que está realizando.
  • No momento da leitura a visualização das páginas é importante.
  • Organize as crianças de maneira que possam ver as ilustrações.
E o professor como participa da leitura?
Existem duas situações diferenciadas no papel do professor no momento da leitura do livro sem texto:

1ªO professor faz a leitura das imagens segundo o seu olhar;
2ªO professor mesmo tendo sua interpretação convida as crianças a contarem a histórias a partir da leitura das imagens.

Na primeira situação existe um direcionamento da leitura por parte do professor. Mesmo que as crianças participem com suas observações a leitura foi conduzida segundo o olhar do leitor (o professor).
"São muitos os fatores que influenciam na compreensão estética, dentre eles o meio familiar, o social, o acesso a imagens estéticas, etc. Contudo, a interação situa-se como fator preponderante no desenvolvimento da educação do olhar, uma vez que esta permite o desenvolvimento de idéias mais sofisticadas, as quais possibilitam uma leitura cada vez mais crítica."Rossi (2003, p.130).

Cada olhar está carregado de significados, interpretações e emoções de acordo com experiência de vida de cada pessoa.

Na segunda situação o professor mediará auxiliando-as na observação das imagens sem concluir no lugar da criança. A cada observação feita o professor estimulará novos olhares. A pergunta tem papel importante no convite à leitura, a escuta atenta das falas e observação da expressão fisionômica da criança são elementos reveladores de como cada um participa e deve ser considerado pelo professor no processo de leitura de imagens.

"Na medida em que o indivíduo vai conhecendo, explorando, formulando hipóteses e refletindo sobre as imagens, ele vai gradualmente refinando o olhar. A escola pode contribuir para o desenvolvimento desse processo, oferecendo desafios sob a forma de atividades abrangendo diferentes imagens existentes. Isso envolve, segundo o autor, não um treinamento, mas a participação da criança em atividades que coloquem em prática a ação de fazer perguntas às imagens e refletir sobre elas.Almeida Junior (2000, p. 20).
Para saber mais:
  • DOMICIANO,Cassia Leticia Carrara  – Professora assistente da Universidade Estadual Paulista (UNESP), doutoranda do Instituto de Estudos da Criança, Universidade do Minho (Portugal).
  • ALMEIDA JÚNIOR, J. B. de. Alfabetização para a leitura de imagens: apontamentos para uma pesquisa educacional. Revista de Educação, n. 08, p. 15-21. Pontifícia Universidade Católica. PUC-Campinas. Campinas: 2000.
  • RAMALHO E OLIVEIRA, S. R. Leitura de imagens para a educação. 1998. 288 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
    ROSSI, M.H.W. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediação, 2003.
  • Livros sem texto para crianças Pré-escolares: produção e leitura.

5 comentários:

Unknown disse...

olá! sou a Alexandra, de Portugal e estou a desenvolver a minha tese de mestrado na área da ilustração infantil. assim, no meio de muitas pesquisas, descobri este post, com bastante interesse. a minha pergunta é se posso usar algun material que aqui têm para a minha própria investigação, fazendo referência ao blog.
Obrigada, Alexandra

Para Além do Cuidar disse...

Alexandra,

que feliz em saber que tenha gostado do artigo. Espero que contribua com o seu trabalho de pesquisa.
Tudo bem constar o blog como referência.Será uma honra.
Se precisar de algo, escreva.
sucesso!

Bete Godoy

Sharon Caleffi disse...

Adorei o artigo, Bete, é incrível! Tenho um filho de dois anos e meio e estou sempre procurando livros para ele. Juntar os autores e livros assim foi muito útil! Obrigada!!!

Unknown disse...

Qual é o nome técnico dado a um livro sem texto? Gosto muito de escrever, de transmitir mensagens positivas que possam agregar algum valor nas pessoas. Achei o artigo interessante, parabéns!

Anônimo disse...

Muito interessante...