A LEITURA TEM ESPAÇO GARANTIDO
Bete Godoy
Não é simples planejar e coordenar situações de capacitação docente.
Criar um ambiente convidativo à ampliação e construção de saberes requer do coordenador pedagógico a habilidade de planejar momentos durante a formação em que a reflexão seja profunda e sistemática sem desconsiderar as situações de descontração.
O coordenador pedagógico sem um plano de formação e desprovido de planejamento diário para os encontros inevitavelmente se perderá nas ações a serem desenvolvidas. Fato observado com freqüência principalmente nos momentos de leitura que tem espaço garantido.
Os momentos de estudo são marcados pela pesquisa, leitura, registro e análise das temáticas à luz das teorias. Mas, na tentativa de tornar o ambiente agradável é comum ver coordenadores que oferecem leituras de textos que quase sempre são descontextualizados das práticas que sucedem no decorrer do encontro. Na maioria das vezes são textos de autoajuda, crônicas de caráter moralizador ou histórias carregadas de humor.
Se ler é uma atividade orientada por propósitos - de buscar uma informação necessária para resolver um problema prático a se interar em um mundo criado por um escritor como afirma Délia Lerner, as situações de leitura oferecidas aos professores também devem atender os propósitos do plano de formação.
Por que a leitura é uma prática importante na formação dos professores?
Ao professor se atribui a responsabilidade de atuar como leitor cumprindo a escola enquanto instituição a missão de comunicar a leitura como prática social.
A leitura do professor é de particular importância na primeira etapa da escolaridade, quando as crianças ainda não lêem eficazmente por si mesmas. Durante este período, o professor criar muitas e variadas situações nas quais lê diferentes tipos de textos.
O coordenador pedagógico deve planejar situações para que os professores possam perceber e ampliar suas práticas leitoras com as crianças, além de explicitar como se relacionam com os livros e quais comportamentos de leitor exercitam.
Conhecer quais as práticas de leitura presentes entre os professores e o que eles precisam saber para a escolha das modalidades de leituras a serem oferecidas às crianças é importante no processo formativo. A análise de situações homólogas é uma estratégia formativa que contribui bastante na construção deste conhecimento.
“As situações homólogas necessariamente não são propriamente modelos, posto que não se trate de atividades com crianças. Mas são práticas sociais reais, escolhidas pelo formador para explicitar os processos dos sujeitos envolvidos em determinados atos, bem como para fazer emergir a natureza própria dos objetos de conhecimento em questão, visando apoiar os planejamentos dos professores"...
"Quando a ação é analisada e compreendida não do ponto da aparência, isto é, apenas com o intuito da repetição da mesma atividade com as crianças, mas sim buscando entender os processos que ocorrem em situações semelhantes, é possível iluminar de forma diferente os objetos de ensino. Permite que se vejam os parâmetros sociais e culturais das práticas.”
Planejar situações em que o professor possa vivenciar durante a formação umas das modalidades organizativas de leitura oferecerá a oportunidade de reflexão sobre a própria experiência e ação.
Boas práticas de leitura na formação!
A sequencia de leitura de histórias é uma modalidade organizativa interessante para o desenvolvimento do comportamento de leitor nas crianças. E por que não oportunizar ao professor essa mesma experiência e aprendizagem?
Então, planejei e organizei momentos durante a formação para que as leituras acontecessem.
Ao grupo foi apresentado a proposta de leituras sobre a criação, o mundo e a vida.
Obervação: a conversa sobre estas temáticas por várias vezes esteve presente no bate papo entre os professores.
Obervação: a conversa sobre estas temáticas por várias vezes esteve presente no bate papo entre os professores.
Plano do coordenador pedagógico
Sequencia de histórias: Contos da criação Objetivos
• Proporcionar situações homólogas ligadas as modalidade organizativas da leitura.
• Ampliar os saberes e vocabulários dos professores.
• Desenvolver o comportamento de leitor.
• Conhecer como as diferentes culturas explicam a criação do mundo e do homem.
• Respeitar a diversidade cultural e religiosa.
Duração
• 4 meses
Avaliação
• Registro escrito. Cada dia um integrante do grupo realizava o registro.
Títulos
1-O senhor do bom nome. Contos judaicos. Ilan Brenman. Cosac e Naify.
2-O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros. Betty Mindlin. Editora Cosac e Naify.
3-Os príncipes do destino. Histórias da mitologia africana. Reginaldo Prandi. Editora Cosac e Naify.
4-O cabeça de elefante e outras histórias da mitologia indiana. Lucia Fabrini de Almeida- Editora Cosac e Naify.
5-Leitura do texto Gênises 1 da Bíblia.
6-Ouvimos a música de Gilberto Gil ( a raça humana).
Etapas da leitura
1-O senhor do bom nome. Contos judaicos. Ilan Brenman. Cosac e Naify.
Os contos judaicos são repletos de pontos de afinidade com cultura cristã ocidental. O livro Senhor do bom nome traz com muita poesia e magia pequenas histórias explicando como Deus criou o sol, a lua, a primeira mulher e depois a Eva e assim por diante.
A cada dia a leitura era realizada por um professor. Deste livro fizemos a leitura de todas as histórias.
Os professores revelaram seus saberes sobre a Torá e a compararam com a bíblia.
2- O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros. Betty Mindlin. Editora Cosac e Naify.
Antes de iniciar a leitura contei uma das histórias dos contos judaicos para relembrar a história que eles mais gostaram.
Depois trouxe informações sobre a autora das novas leituras. Exploramos a ilustração da capa. Li para elas a introdução que trazia informações valiosas sobres os propósitos da autora.
A autora deste livro procurou escrever as histórias como são contadas pelos índios sem a preocupação com a estrutura léxica convencional.
Lemos apenas as quatro primeiras histórias do livro.
Os professores apontaram a dificuldade em realizar leitura, mas que por saber do propósito da autora entendiam a organização da escrita.
Levantamos costumes, maneiras em comum de explicar as coisas entre nós e os indígenas e a presença de elementos da natureza com relevante importância para os índios.
3-Os príncipes do destino. Histórias da mitologia africana. Reginaldo Prandi. Editora Cosac e Naify
Em diversos momentos os professores demonstravam seu comportamento de leitor e eu como formadora registrava tudo.
Os professores revelaram o interesse em conhecer mais sobre a cultura africana. Assim a leitura foi prosseguindo.
Comentaram sobre a poesia nas explicações tanto quanto a cultura judaica, só que cada um a sua maneira de ver o mundo.
Perceberam que as palavras e em especial os nomes são carregados de vogais como Iorubá, Obará e etc e que quase todos os nome são acentuados.
Realizamos a leitura até a quarta reunião dos príncipes.
O gostinho de quero mais foi um grande incentivo para a continuidade das leituras.
4- O cabeça de elefante e outras histórias da mitologia indiana. Lúcia Fabrini de Almeida- Editora Cosac e Naify.
Os professores estavam curiosos para conhecer mais sobre a cultura indiana já que neste momento estava passando uma novela que trazia várias informações sobre a Índia.
Acharam a história mais violenta sem tanta poesia, mas, ficaram surpresos ao saber esse povo explica a imagem de uma pessoa com cabeça de elefante que com tanta freqüência vêem nas roupas indianas.
Comentaram que os nomes são repletos de consoantes, bem diferente da cultura africana.
Este livro trouxe uma explicação para o surgimento da primeira criança no mundo fato que não tinha acontecendo nas leituras anteriores.
Realizamos leitura até o texto o filho de pano.
Leitura feita e muitas comparações surgiram.
Foi possível sair da conversa do campo religioso para o cultural.
Grandes avanços!!!
6-Ouvimos a música de Gilberto Gil ( a raça humana).
Com a letra da música em mãos ouvimos, cantamos com alegria de aprender com tanta poesia e prazer.
AVALIAÇÃO
Pauta e Registro do coordenador pedagógico
Comparar como cada cultura explica a criação, as semelhanças e diferenças na culinária, nos objetos, animais, costumes, valores, sentimentos e compreensão de vida oportunizou o respeito e o conhecimento a diversidade cultural.
Foi uma experiência muito significativa. Os professores vivenciaram situações de aprendizagens importantes por meio da leitura e compreenderam a importância do ato de planejar uma sequencia de leitura considerando:
•A escolha de bons textos.
•A Organização de um ambiente convidativo à leitura.
•A importância do professor demonstrar interesse pelo o que está sendo lido e oferecido as crianças.
• A seleção de qual texto a ser lido quando o livro é composto por vários capítulos.
• Em que momento numa sequencia será interessante narrar uma das histórias.
• O papel das interações sociolingüísticas proporcionadas a partir das leituras.
• Os propósitos da leitura.
• A importância de planejar sequencias de histórias para as crianças.
O momento de formação é um espaço rico em oportunidades de leituras que possam contribuir com o desenvolvimento professor enquanto profissional da educação e como cidadão.
Coordenador Pedagógico aproveite este momento e planeje boas situações de leituras!
SUGESTÕES DE SEQUENCIA DE LEITURAS NA FORMAÇÃO
SUGESTÕES DE SEQUENCIA DE LEITURAS NA FORMAÇÃO
- Histórias da mitologia grega e nórdica. Quais as diferenças e semelhanças?
- Contos espanhóis, árabes, budistas para criança ou adultos.
- Contos sobre mulheres.
- Textos jornalístico sobre alguma temática convidativo à reflexão.
- Poesias.
- Textos científico sobre alguma temática intrigante. Ex: como foram elaborados os calendários nas diversas culturas? Os dias da semana são os mesmos em todos os lugares do mundo? Como se organiza o tempo humano?
- Leitura de uma boa sequencia literária infantil.
- Leitura de um gênero ou portador de texto específico.
- Temática pedagógica abordada por alguns autores ou até por diferentes revistas de educação.
-Augusto,Silvana. Klisys,Adriana. Carvalho, de Silvia Pereira. BEM-vindo ao mundo! Capitulo VII- Instituto Avisalá.
-A rede em rede: Formação Continuada. Fase I-2007. as práticas sociais da leitura.P.67. Secretaria Municipal de São Paulo.
-Lerner, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. P. 95 e 96. Artmed,2002.
Um comentário:
muito bom.. sem comentários!!
Janaina Chicoli
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