Hoje lhes escrevo com uma grande preocupação referente à uma proposta de avaliação em larga escala do desenvolvimento e da aprendizagem em crianças na educação infantil. Essa proposta tem sido discutida no Ministério de Planejamento Estratégico do governo federal e contraria todas os avanços que temos tido nos últimos anos na área.
No dia 04/11, o Fórum Paulista de Educação Infantil organizou uma mesa de debate para discutir o assunto, que contou com a presença do Prof. Luiz Carlos Freitas, da UNICAMP e da Prof. Letícia Nascimento da USP.
O Prof. Luis Carlos Freitas contextualizou essa proposta do ponto de visa social e econômico. Segundo o professor, o cenário brasileiro se alterou muito nos últimos 5 anos, uma vez que o Brasil foi escolhido por organismos internacionais como plataforma de investimento – juntamente com a Rússia, a Índia e a China. Isso significa que há um investimento internacional muito grande no país. Esse investimento, seguindo as lógicas do capital, precisa ser valorizado. Por isso, o investimento em infraestrutura (marcadas pelas obras do PAC) e em aumento de produtividade (o que tem ligação direta com a educação).
Nesse sentido, está havendo uma grande mudança de enfoque nas políticas públicas de educação e a educação infantil, tem sido a“bola da vez”.
Empresários querem disputar esse cenário educacional e vêm fazendo pressão nas secretarias e no Ministério da Educação. A indústria de consultorias em educação e de apostilas vêm nesse sentido. Assim como a indústria de testes.
Pela lógica do empresariado, o grande problema de educação pública é que ela é pública, e não privada. E que o modelo que deve ser adotado na Educação é o da organização empresarial. Crê-se que esse tipo de organização é um avanço, portanto é preciso seguir esses princípios: bônus para quem vai bem, demissão para quem vai mal.
Essas idéias vêm dos Estados Unidos, que vem implementando isso há mais de 15 anos. Na educação infantil, os reformadores empresariais, como denominou Luiz Carlos Freitas, vêm fazendo testes de larga escala nas crianças de 4 e 5 anos. Esses testes, voltados as questões da língua materna e matemática tem provocado uma formação extremamente escolarizadora da infância e provocado um estreitamento curricular muito grande. A arte e o lúdico, linguagens primordiais da infância estão sendo renegadas. Essas são as conclusões de um recente relatório elaborado por pesquisadores americanos, cujo titulo é: “Crise nos Jardins da Infância: Porque as crianças precisam brincar na escola”., Segue o link para o relatório completo: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=children%20need%20to%20play%20%2Breport&source=web&cd=6&ved=0CFIQFjAF&url=http%3A%2F%2Fwww.communityplaythings.com%2Fresources%2Farticles%2Fvalueofplay%2Fkindergarten_8-page_summary.pdf&ei=xoy2TuijDer10gHExrHRBw&usg=AFQjCNE413X_LvXQqIbwnPF7XfmtDda3HA&sig2=kjTvCLp3HbMzzBm6RrFZEA&cad=rja
Luiz Carlos Freitas nos alertou em sua palestra, que muitas escolas americanas estão sob controle de iniciativas privadas e que essas escolas não tem tido melhores resultados que as escolas públicas no PISA (avaliação de aprendizagem de escola internacional). Aliás, a posição americana no PISA não tem se alterado nos últimos 10 anos, embora as crianças tenham sido testadas sistematicamente. Pelo contrário, a pressão sofrida por essas crianças tem aumentado os casos de depressão infantil e a medicalização delas. O filme “Caminho para lugar nenhum” (em inglês Race to nowhere) aponta o efeito que essas testagens tem provocado nas crianças.
Ou seja, pontuou Freitas, nada indica que a adoção das estratégias americanas tem apontado que são boas políticas educacionais. Mas essa é uma luta com forcas poderosas que mobilizam bilhões de dólares. E são essas industrias que tem defendido essas mudanças. Elas estavam presentes nos últimos seminários do Ministério de Estratégia e Planejamento do governo federal, na tentativa de vender esses testes de larga escala. Mas, para poder ser vendidos, esses testes precisam ser validados com uma grande amostragem. O que tem sido feito no Rio de Janeiro com uma amostra de 40 mil crianças. (A saber, o teste segue um viés comportamentalista marcante, como questões do tipo: a criança de uma ano é capaz de abrir uma porta? Segue determinados comandos, como pegar a bola quando solicitado?, e por aí vai...)
Luiz Carlos Freitas nos indagou na palestra, o porquê de não adotarmos outras lógicas de políticas educativas de países que tem sido bem sucedidos na formação das crianças pequenas. Citou a Itália, a Finlândia e, no caso latino americano, o Uruguai. Países, que tem como principio a formação e a confiança no corpo docente e a avaliação das instituições (e não das crianças) em seu contexto.
Os argumentos do Professor Luiz Carlos Freitas nos mostram que é urgente que nos mobilizemos contra essas políticas que desconsideram a criança e seus direitos, criando expectativas e indicadores de desenvolvimento que não as consideram enquanto sujeitos de saberes. As testagens das crianças provocam expectativas quanto à seu desenvolvimento. Essas expectativas, por sua vez, criam padrões de comportamentos que geram um modelo de currículo para infância. E as crianças ou instituições que não se encaixam precisam de intervenções de especialistas, o que aumenta a demanda para uma indústria de consultoria e apostilamentos.
Em sua fala, a professora Maria Letícia do Nascimento retomou sua entrevista realizada para o Observatório da Educação. A entrevista nos ajuda a entender melhor esse processo e os perigos trazidos por ele para nossas crianças e instituições.Link para a entrevista: http://primeirainfancia.org.br/?p=6555
O Fórum Paulista de Educação Infantil tem se mobilizado contra isso. Para conhecer como podemos ajudá-los nessa luta, segue o blog:http://fpeicrianca.blogspot.com/
Em breve, haverá um abaixo assinado a respeito assunto e conto com a assinatura de vocês. Além disso, precisamos debater o assunto em nossos espaços educativos. Quem tiver mais sugestões de mobilização social esse é um espaço para isso.
Publicado no Blog Pedagogia http://pedagogiacomainfancia.blogspot.com/
2 comentários:
Olá Maria Cristina e Beth,
este é mesmo um assunto polêmico, afinal pensar em avaliação é algo muito difícil e ainda mais com os pequenos não é mesmo?
Mas precisamos saber o que fazer para realmente dizer do que são capazes os pequenos.
Olá pessoal!Obrigada pela divulgação!
O Movimento interfóruns de educação infantil do Brasil - MIEIBI - criou um abaixo-assinado contra esse absurdo que é a avaliação do desenvolvimento infantil em larga escala. Quem quiser assiná-lo o link é: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=MIEIB11
Por favor, assinem e divulguem!
Grande abraço!
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