segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Capítulos Essenciais, John Dewey



Ensaios comentados


Democracia e Educação – Capítulos Essenciais, John Dewey, 136 pág., Ed Ática

Trecho do livro
“ Toda Educação que desenvolve o poder de compartilhar efetivamente a vida social é moral (...).
O interesse em aprender com todos os contatos da vida é o interesse moral essencial”

Marcus Vinicius da Cunha, autor desta resenha, é docente da Universidade de São Paulo (USP)


Conheci Democracia e Educação há pouco mais de 20 anos, quando cursava o doutorado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Desde então, o que mais me impressiona no livro são suas muitas possibilidades de leitura. Essa característica explicita as diversas interpretações do pensamento de John Dewey (1859-1952) que vigoraram na Educação desde o século passado (o livro é de 1916). A influencia de Dewey foi notada também no Brasil, onde a obra foi publicada pela primeira vez na década de 1930 – tendo entre os tradutores Anísio Teixeira (1900-1971).
Demorei alguns anos para formular uma explicação compreensível dessas várias leituras. Tive a oportunidade de registrá-las em algumas publicações e, mais tarde, fui convidado a fazer os comentários de uma reedição do volume.
A interpretação mais comum é a que permite apreender uma série de sugestão para inovar a Educação, tornando o ensino dirigido pela experiência. Trata-se de uma leitura “pedagógica”, muito útil a professores que desejam refletir sobre suas práticas. Aprendemos com Dewey que os objetivos da Educação devem ser compartilhado entre alunos e professores e que o ensino precisa levar à reflexão.
Uma segunda leitura, que podemos denominar “sociológica e histórica”, permite entender que as inovações sugeridas por ele só se tornam efetivas em uma sociedade democrática. E que democracia é, mais do que uma forma de governo, um modo de vida em que os grupos sociais têm liberdade para defender seus interesses em busca de consensos. O autor defende que nunca houve uma sociedade assim, o que impede a realização da democracia e o pensar reflexivo.
As duas primeiras leituras completem-se com a interpretação filosófica.  Dewey nos mostra que o conhecimento deve ser visto como investigação e busca continua pelo que se dá significado e direção a futuras experiências – e não o que se isola no interior da mente. Já a moral, para ele, é o conjunto de disposições que se prestam ao enfretamento dos impasses da vida prática – e não o que nos aliena do mundo por meio de dogmas, servindo à satisfação individual ou do professor. Deste modo, Dewy defende a necessidade de transformar nossas concepções sobre esses dois conceitos para, assim, conquistarmos uma nova Educação.

Revista Nova Escola
Ano XXVII. Nº255 – Setembro de 2012

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