domingo, 10 de outubro de 2010

Corredor das Sensações

“O corpo se constrói junto com a personalidade. Nossos sentidos participam dessa construção.”
André Trindade

Por Maria Cristina dos Santos

Um corredor vazio. Isso me incomodava muito!
A pergunta que não calava: “Se todo espaço em uma instituição de ensino deve ser um ambiente educador o que este espaço diz?”
A primeira conquista foi à aquisição junto a Cooperativa de Reciclagem Chico Mendes de quadros de acrílicos, alguns leitosos e outros transparentes que formavam pares.



                  

Distribuímos os quadros pelo corredor,alguns foram utilizados para expor as produções das crianças e outros para a amostra de obras de artistas plásticos famosos.

              

               


No primeiro momento ficamos em estado de êxtase, afinal conseguimos um espaço fixo para exposições que não interferia nas produções. Para nossa diretora foi um grande alívio, pois a nova conquista acabaria com a manutenção de  pintura nas paredes (só quem é diretora de escola pública entende o que estou dizendo, nos preocupamos com a estética do ambiente mas temos pouca verba para a manutenção ). Outro sonho realizado foi de expor obras de artistas plásticos famosos, para repertoriar a todos que frequentam o local.Preocupamos-nos em colocar quadros de forma que a criança possa visulizá-los e também os colocamos na altura de um adulto.
Nos primeiros dias fiquei encantada.


Yasmim do BII  me perguntou:
_ Quem desenhou este pipa?
Enchi o peito e respondi:
_ Foi o Portinari
Não deu tempo de dizer mais nada, ela saiu correndo para junto de seus colegas gritando:
_ Vocês viram? O Portinari desenhou o pipa.
Com uma intimidade tamanha que deixou super feliz!

Passado os dias voltou a sensação  de que o espaço estava muito limpo, o ambiente não lembrava um espaço onde circulam crianças, não conseguia transmitir a delas mesmo que suas marcas estivessem nele  através de seus grafismos, pinturas e colagens.

 
Propus aos professores  fazer daquele corredor um ambiente educativo e lúdico. Visto que com o passar dos dias não veio nenhuma idéia do grupo  eu  decidi utilizar o espaço estimular os cinco sentidos humanos, iniciei o trabalho com a equipe educadora e batizamos o projeto de : “Corredor das Sensações”

         

Iniciamos o trabalho colocando instrumentos musicais diferentes pindurados no corredor, Quiteria da Costa Campanaro fez duas cortinas: uma a partir de fitas de VHS e outra colorida com fitas de cetim, fitilho e TNT. Os educadores Márcia Jorge e do Luis Henrique Mujica Nunes preocuparam-se em deixar um espaço vazio ao lado das cortinas  caso  alguma criança ou adulto não se sentisse a vontade de passar através delas. Para dar um ar chique fui logo dizendo que eram instalações.


Em nosso ateliê sempre haverá algo que pode ser transformado. Por exemplo uma cortina feita com bambu, que tinha o intuito de produzir sons não funcionou para o Berçário I ( 0-1 ano), devido a pouca idade as crianças não conseguiam manusea-los e o bambuns se tornaram objetos perigosos.Transformamos uma parte da cortina de bambu em um sino dos ventos com restante Audenora Ferreira Espindola fez um instrumento musical para as crianças.


              

O professor Andre Luiz da Silva teve a idéia de iluminar um espaço com lâmpadas pisca-pisca .Ele, juntamente com a professora Lina Asano Silva Ferreira que confeccionou o material, pensou em fazer saquinhos que contivessem diferentes tipos de aromas (dentro  destes havia chocolate,café,ervas,cravo,canela,etc) onde as crianças poderiam experimentar cheiros diversos.
A idéia foi tomando conta do grupo, a professora Gessilda Viana Rabelo apresentou algumas fotos da Exposição: É proibido proibir, realizado no Sesc Pompéia, que por sua vez foi elaborada com propostas de Reggio de Emilio (cidade italiana que possui  um projeto muito interessante para Educação Infantil). A mesma professora contribuiu ,também, com um cabide todo forrado com chaves, um sucesso!

            


Na semana seguinte as professoras Shirley Estela Benicio e Andreia Cristina Oliveira Bernardes trouxeram a idéia de utlizar bolinhas com uma textura peculiar que quando lançadas contra a parede acendiam uma luz.Uma delícia, porém a qualidade do material fez com que as bolinhas não durassem muito.
Nossa diretora Maria Goreti de Sousa Marinho criou um quadro representanto uma borboleta feito a partir de tampas de garrafa pets,  lindo!

Passado quinze dias pensamos em mudar o corredor totalmente.A partir da proposta de uma sequência pedagógica de artes elaborada anteriormente pela professora Lina, “Os cinco dragões”,  trouxemos para o espaço trabalhado a "sala de espelhos", ( vide fotos abaixo).

Alguns adultos conseguiram perceber que ao passar no corredor cada pessoa produzia um som diferente através da proximidade do papel alumínio.

Nossas crianças ainda estão na fase que precisam tocar nos objetos,como cita o Professor André Trindade  em seu livro: Gestos de Cuidado, Gestos de Amor :

 "o tato e visão, são sensações complementares e dependentes. A criança precisa tocar o objeto que vê a fim de compreender o que enxerga. Ao tocar, poderá dar significado às imagens captadas pelos olhos. Noção de profundidade, forma e textura constroem-se simultaneamente à imagem."
Mesmo sabendo que o material tem uma vida útil pequena, pois nossas crianças necessitam tocá-lo, acreditamos na importância do experimento.

         



As pessoas estão se apropriando deste espaço e entendendo a importância para a criança,a próxima instalação que montaremos já ganhou até um nome: Sensações, cheiros e olhares.

Meu muito obrigado a toda equipe que comprou a idéia e cada dia chega com uma nova contribuição.
 

Sensations Hallway

“The body builds itself along with the personality. Our senses participate in that construction”
André Trindade (free translation)

Written by Maria Cristina dos Santos


An empty hallway. That bothered me so much!
This question never stopped. “If every empty space in an educational institution must be a teaching environment, what does that space say?”

The first achievement was the acquisition of pares of acrylic pictures from the Cooperativa de Reciclagem Chico Mendes ( a recycle centre) , some with milky aspect and some transparent making pairs.


                  



We distributed throughout the hallway for an exhibit the children’s production and others from famous artists.

          


               


In the first moment, we were extasiated, we had finally found a permanent area for exhibits that would not interfere in the productions, and for our director it was a great relief because this would end the concern about the paint-peeling walls (this may not be understood by who is not acquainted with the reality of a public school that has low budget for maintenance and concern with appearance of the school). Another dream that came true was that we were able to expose paintings of famous artists at children’s and adults’ height in a way to recompile them. 


During the first days, I was enchanted.
Yasmin, from preschool grade II, asked me:

_Who drew this kite?

I filled my lungs with air to tell her:

_It was Portinari.

There was no more time to say anything else and she ran towards her classmates saying:
_Did you see it? Portinari drew the kite.

With such intimacy that I was very happy.

After some days, the feeling that the room was too clean, and it could not transmit the kids’ joy even with their graphic, paintings and collage expressions, it did not remind me of a space where children circulate.


I launched a proposal to the teachers: to make of that area an educational and playful space.

After some days, as no ideas came, I named the area as the “Sensations Hallway”


         
 
A few more days had passed and the teachers and I put different musical instruments hanging in the hallway, Quiteria da Costa Campanaro sowed two curtains, one out of VHS tapes and the other from satin ribbon tape, gift packing tape and TNT fabric. Márcia Jorge and Luis Henrique Mujica Nunes’s concern was to make room in the hallway area for anybody who did not feel comfortable going through it, so they would have the option to go beside it. To make it sound fancy, I said they were installations.




In our athelier, there is always something that can be transformed. An idea with bamboo that was originally made for grade I and did not work, was used to be our wind chimes and the with the remainder, Audenora Ferreira Espindola made some instruments to the children.

           
 
The teacher Andre Luis da Silva had the idea of lighting the space with blinking lights and with the teacher Lina Asano Silva Ferreira, they thought about making little bags where the kids could try new scents, and these were made by her. The idea spread through all the group, the teacher Gessilda Viana Rabelo presented some pictures of the exhibit É proibido proibir (It’s prohibited to prohibit, free tranlation), that took place at Sesc Pompéia, with a lot of ideas from Reggio de Emilio, an Italian city that presents a very interesting proposal for early childhood education. And she contributed with a hanger full of keys, a success.
        
 
In the following week, the teachers Shirley Estela Benicio and Andreia Cristina Oliveira Bernardes brought little balls with different textures as ideas, and when thrown against the wall, a blinking light would turno n, but it did not last very long.

Our director Maria Goreti de Sousa Marinho made a picture from PET bottle caps, a beautiful butterfly!

After two weeks we thought of changing the hallway completely basing ourselves on the proposal of a pedagogical art sequence called “The five dragons”, and we brought to the hallway the idea of a mirror room.

Some adults were able to notice that while going through the hallway each person produced a different sound getting closer to the aluminium foil.
Our children are at the point when, according to the André Trindade in his book Gestos de Cuidado, Gestos de Amor (Gestures of Care, Gestures of Love – free translation) that “tact and vision are complementary and dependent sensations. The child needs to touch the object that sees in order to understand what he or she sees. By touching, he or she will be able to attribute meaning to the images captured by the eyes. Notions of depth, shape and texture are built simultaneously with the image.” (free translation)

This means, another beautiful installation, but with a short lifetime. But I can assure you that with their smiles, they are loving the idea.


         



 
 

The next installation that we are organizing has already been named: Sensations, scents and looks. The idea is little by little being introduced by our team, the people are getting used to the space and understanding its importance to the child.

Thank you so much to all our team that has internalized the idea and that day by day comes with a new contribution.

                                                                    Translated by Natália  Marinho

8 comentários:

Lucia disse...

CRISTINA! AMEI! AMEI! AMEI! Amei a exposição nos acrílicos, amei os instrumentos musicais pendurados, amei as luzinhas do Prof. André Luiz, os saquinhos cheirosos da profa Lina, AMEI o papel alumínio e mais uma vez quero parabenizar a você e a toda a equipe por respeitarem as crianças de tal maneira que pensam, criam, poetizam e se divertem junto com elas. É maravilhoso acompanhar os trabalhos que vocês realizam, pois mesmo de longe nos dão esperança. Esperança porque existem pessoas como vocês que lutam pela infância e a compreendem. PARABÉNS!!! Que lindo!!! Bjs. Lucia Lombardi

Maria Goreti disse...

Cada vez mais lindo.............. parabéns.

Cisele disse...

OLá Cristina , usar o corredor é uma ótima idéia, mas genial mesmo foi envolver a equipe e seguir de perto os interesses e necessidades das crianças pequenas.
Parabéns pela idéia e pelo desenvolvimento dela.

Um beijo
Cisele

Jana disse...

Parabéns!!!
Muito bom esse blog, ideias otimas!!!

Jana

yahoo disse...

PARABÉNS...ficou ótima esta matéria, e cada vez melhor!!!
Sônia

Anônimo disse...

Lindo! Belas idéias! vou incorporar lá no CEI, parabéns! abç!!!

Ivo Carvalho

CECI ALCÂNTARA disse...

Parabéns pelo trabalho, já trabalhei com tiras de TNT em bambolês e foi sensacional com bebês.

jaquinha disse...

Oi, meu nome é Jaqueline e sou coordenadora pedagógico de um Centro de Educação Infantil municipal e no ano de 2010 iniciamos um projeto institucional de revitalização dos espaços, sendo que neste ano iremos dar continuidade criando um cantinho das sensações, irei aproveitar algumas das suas sugestões e lançar para o grupo realizar na minha unidade.
Adoro o seu blog, ele possui muitas sugestões e reflexões que eu tenho certeza irei utilizar nas reuniões pedagógicas com as professoras, parabéns!
Jaqueline
http://www.educacaoinfantilummundoadescobrir.blogspot.com