domingo, 25 de abril de 2010

A Literatura e a Criança

Bete Godoy


Sempre que uma atividade intelectual se manifesta por intermédio da palavra, cai, desde logo no domínio da Literatura. A literatura, porém, não abrange apenas, o que se encontra escrito, se bem que essa pareça à maneira mais fácil de reconhecê-la, talvez pela associação que se estabeleça entre “literatura” e “letras”.

A literatura precede o alfabeto. Os iletrados possuem sua literatura. Os povos primitivos alheios às disciplinas de ler e escrever, também compunha seus cânticos, suas lendas, suas histórias, exemplificando sua experiência e sua moral com provérbios, adivinhações, representações dramáticas transmitidos de memória em memória e de boca em boca.

Afinal de contas, a literatura infantil faz parte da literatura geral? Evidentemente, tudo é uma literatura só. A dificuldade está em delimitar o que se considera como especialmente do âmbito infantil.


As primeiras obras infantis surgiram no final do século XVII, mas é a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias e deveria receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta. O escritor francês Charles Perreault realizou a coleta de contos populares e foi o responsável pelo primeiro surto de literatura infantil (Contos de Fada).


As obras literárias deste período assumiram o papel de distração e mercadoria, por serem manipuladas pela burguesia que produzia livros com conceitos visando moldar as crianças segundo os seus interesses financeiros; mas no decorrer dos anos, a Literatura Infantil passou a ser vista sob um novo aspecto.


No Brasil, a Literatura Infantil só chegou ao final do século XIX. A literatura oral prevaleceu até esse período com o misticismo e o folclore das culturas indígenas, africanas e européias. Carlos Jansen e Alberto Figueiredo Pimentel foram os primeiros brasileiros a se preocuparem com a literatura infantil no país, traduzindo as mais significativas páginas dos hoje considerados "clássicos" para a garotada. Com Thales de Andrade, em 1917, é que a literatura infantil nacional teve início. E foi em 1921 que nosso grande Monteiro Lobato estreou com "Narizinho Arrebitado", apresentando ao mundo Emília, a mais moderna e encantadora fada humanizada.
No entanto, só após a década de 70 houve um grande desenvolvimento da literatura para crianças com a entrada de grandes editoras no mercado.

O livro infantil é, então, relativamente recente. È preciso esclarecer de que livro está se falando, pois nessa categoria se incluem os livros de aprender a ler, os livros das diferentes disciplinas escolares; os que não são caracterizados pela aprendizagem formal; os livros sem palavras, os chamados álbuns de gravuras, que representam uma comunicação visual pelo desenho-anterior as letras.

A literatura é um agente formador por excelência, então o professor precisa estar atento às transformações do momento e reorganizar seu próprio conhecimento ou consciência de mundo.

Cada época compreendeu e produziu literatura a seu modo, conhecer a literatura que cada época destinou as crianças e jovens, é conhecer os ideais e valores que fundamentam a sociedade, sem essa critica qualquer ação educativa é sustentáculo da condição de alienação.

Disse Hitler: ”num país onde há muitos escritores e poetas, não há prosperidade”, e Cecília Meireles, “a literatura não é, como tantos supõem, um passatempo. È uma nutrição”. Poetas e escritores fazem parte de um universo de cultura muito amplo: a literatura.


A Literatura é a expressão do belo, fenômeno de criatividade que representa o mundo, homem, a vida, através da palavra, portanto é arte. È um instrumento de difusão de valores pessoais, coletivos, morais, sociais, enfim, é uma expressão “da alma” de alguém face ao mundo.

O que se propõe como princípio que deve orientar o fazer pedagógico é que, entrar no universo da leitura e escrita é operar com signos e significados dentro de um mundo pleno de valores e de sentidos historicamente produzidos e socialmente marcados. Para Luiz Percival Leme de Brito quando se pensa em um sujeito autônomo supõe por em questão as formas de dominação.

O desafio da educação infantil é construir bases para que as crianças possam desenvolver-se como pessoas plenas e de direitos e, assim participar da cultura escrita. Ser pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a literatura nos oferece, dispostas a identificar-se com os outros semelhantes ou solidarizar-se com o diferente e capaz de apreciar qualidade literária.

No próximo artigo trataremos das questões didáticas que envolvem literatura trazendo boas práticas leitoras e escritoras na educação infantil.

Para saber mais:Matéria literária e seus fatores estruturantes

A invenção transformada em palavras é o que chamamos de matéria literária (narrativa, poética ou dramática). È, pois, da arte do autor em inventar ou manipular esses processos e recursos que resulta a matéria literária.
Na composição da matéria narrativa, entram dez fatores estruturantes:
1-O narrador: a voz que fala, enunciando a efabulação.
2-O foco narrativo: o ângulo ou a perspectiva de visão, escolhida pelo narrador para ver os fatos e relatá-los.
3-A história: a intriga, o argumento, enredo, situação problemática, assunto, etc.
4-A efabulação:a trama da ação ou dos acontecimentos, seqüência dos fatos, peripécias ,sucessos,situações, a trama.
5-O gênero narrativo: depende da natureza do conhecimento de mundo e implícito na narrativa podendo assumir três formas distintas: conto, novela, e romance.
6-Personagens: aqueles que vivem a ação.
7-Espaços: ambiente, cenário, paisagem, local.
8-Tempo: período de duração da situação narrada.
9-A linguagem ou discurso narrativo: elemento concretizador da invenção literária.
10-Leitor ou ouvinte: o provável destinatário, visado pela comunicação.

O gênero narrativo e apresenta de três formas distintas

CONTO: tudo no conto é condensado, a efabulação ocorre entorno de uma única ação ou situação, a característica das personagens e do espaço é breve, a duração temporal é curta.
Ele registra um momento significativo na vida da(s) personagem (s), exige concisão e trata de fixar um fragmento da vida.
NOVELA: resulta de uma visão de mundo complexa. È uma longa narrativa estruturada (várias pequenas narrativas, independentes entre si) cuja unidade global é dada pela presença de um elemento coordenador.
Várias aventuras acontecem junto com a trama central, o que predomina é o acontecimento interessa mais o que as personagens fazem, do que os seus problemas interiores ou o que elas são.
ROMANCE: a visão de mundo que fundamenta a forma romance é a de um universo organizado em torno de um sistema de valores coeso e unificado por um pensamento ordenado. Se desenvolve em torno de um único eixo dramático, são muitos os acontecimentos encadeados pela efabulação, mas , todos ligados diretamente ao eixo central, por este justificado.

Linguagem Simbólica

FÁBULAS: animais que representam idéias, intenções, conceitos e vivem situações exemplares.
APÓLOGOS: utilização de seres inanimados que adquirem vida e falam ou agem como humanos em situações exemplares.
PARÁBOLAS: alusão ou analogia que permite uma situação comum, cotidiana, vivida por homens ou mulheres, seja compreendida de imediato em outro nível de significação mais alta, que amplia aquele cotidiano particular e precário para um significado moral amplo e perene ligado ao espírito humano.
ALEGORIA: pela transposição de sentido de um todo completo, do nível narrativo para o nível ideológico, no qual aquele todo completo adquire uma significação diferente daquela que o nível narrativo apresenta.
A linguagem metafórica também é utilizada nas lendas e mitos.
LENDA: tradição oral ou narrativa escrita de atos praticados por santos ou heróis, conforme a fantasia popular.
MITO: narrativa fabulosa transmitida pela tradição, referente a deuses que encarnam simbolicamente as forças da natureza, os aspectos da condição humana. Imagem simplificada, freqüentemente ilusória, que grupos humanos elaboram, aceitam e que tem um papel determinado no seu comportamento.
Bibliografia
-RAMOS,Maria Cecília Mattoso.Exploração da literatura infantil e juvenil em sala de aula.São Paulo,Editora Moderna.
-MEIRELES,Cecília.Problemas da literatura infantil.Rio de Janeiro,Editora Nova Fronteira.
-LAJOLO,Mariza e ZIBERMAN,Regina.Literatura infantil brasileira.São Paulo,Editora Ática.
-COELHO,Neli Novaes.Literatura infantil:teoria,análise e didática.São Paulo,Editora Moderna.
-REGO,Lúcia Browne. Literatura infantil uma nova perspectiva da alfabetização na pré-escola.São Paulo FTD.
-LERNER, Délia. Ler na escola. O real, o possível e o necessário. São Paulo. Artmed.
-FARIAS, Ana Lúcia G e Mello, Sueli Amaral. Linguagens Infantis e outras formas de leitura. São Paulo. Autores Associados.

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