Maria Cristina dos Santos¹
Michele Correia Meira²
A Pedagogia para a Primeira Infância está
“grávida de si mesma”. Parafraseando Mario Sérgio Cortella, a sensação que
temos é que o currículo da Educação Infantil está ansioso para uma concepção
que entenda bebês e crianças pequenas como seres potentes e capazes não só no
campo das ideias, mas uma prática coerente a esta abordagem.
Pensar numa pedagogia da infância que
contemple as especificidades de bebês e crianças visando à autonomia e autoria
destes implica contextualizar historicamente a Educação Infantil. Esta completa
81 anos se levarmos em consideração a criação dos Parques Infantis de Mário de
Andrade que oferecia uma extensão de atendimento, para além da escola, á crianças maiores cujos pais necessitavam trabalhar.
O atendimento de bebês de zero a três anos
era oferecido apenas por entidades filantrópicas. Na década de 50, movimentos
sociais passaram a exigir conveniamento do poder público “fato este que
impulsionou os movimentos sociais a se organizarem para solicitar a criação de
uma rede direta para o atendimento da população de creche” (FRANCO, 2009, p.32)
o que ocorreu apenas em 1966 com a ampliação dos convênios por meio de uma
programação específica na Secretaria de Bem Estar Social. Com a intensificação
destes movimentos, na década de 1970 ampliou-se a construção de prédios da rede
direta - neste período, sob a competência da Secretaria de Assistência Social
(SAS), em caráter assistencialista. Os profissionais eram leigos (não possuíam
graduação) e agiam por instinto ou levando em consideração sua experiência com
os filhos. Tendo como foco higiene, saúde e alimentação.
Com a promulgação da LDB (Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional – 1996), creches e pré-escolas passaram a ser
entendidas como a primeira etapa da Educação Básica. E com isso,a chegada dos
professores exigiu práticas pedagógicas sistematizadas. Como a literatura da
época para atendimento dessa faixa etária era escassa (apenas bibliografia
estrangeira em outras línguas ou oriundas da puericultura e área da saúde)
importou-se o que se entendia por educação do Ensino Fundamental adaptando o
currículo para a pré-escolarização.
Durante muitas décadas a Educação Infantil
(entendendo-se agora como CEI e EMEI na nomenclatura atual de São Paulo) foi
praticada de modo a preparar a criança para a alfabetização e na maioria das
vezes, a própria alfabetização antecipadamente. E isso ao mesmo tempo em que as
mudanças da sociedade implicaram maior tempo dos bebês e crianças nos coletivos
escolares e diminuição do tempo para brincar espontaneamente ao ar livre. Ou
seja, a exploração de mundo, a pesquisa, os movimentos e interações tão
importantes para o desenvolvimento e construção de identidade foram
substituídos,tanto na escola quanto nos seus lares, por atividades restritas
corporalmente.
Na busca desta nova pedagogia, o Programa Mais Educação São Paulo, por
meio do Currículo Integrador das Infâncias vem estabelecer um diálogo com
as abordagens de Reggio Emília (Itália) e de Emmi Pikler (Hungria),
ressignificando-as de acordo com os diferentes contextos paulistanos.
Nestes, entende-se as Unidades Educacionais como espaços coletivos
“privilegiados”. Como conferimos na Normativa nº1/2013 p. 12:
“Na Educação Infantil as crianças têm
direito ao lúdico, à imaginação, à criação, ao acolhimento, à curiosidade, à
brincadeira, à democracia, à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao
respeito, à dignidade, à convivência e à interação com seus pares para a
produção de culturas infantis e com os adultos, quando o cuidar e o educar são
dimensões presentes e indissociáveis em todos os momentos do cotidiano das
unidades educacionais”.
Portanto, exige-se a construção de um novo
profissional da Educação Infantil que num processo
de co-autoria, atua como observador participativo que “intervém para
oferecer, em cada circunstância, os recursos necessários à atividade infantil,
de forma a desafiar, promover interações, despertar a curiosidade, mediar
conflitos, garantir realizações, experimentos, tentativas, promover acesso à
cultura, possibilitando que as crianças construam culturas infantis” (Nornativa
1/2013 p.15).
Neste Currículo Integrador, é
Imprescindível observar as crianças em atividade, com pouca ou nenhuma
intervenção em determinados momentos, documentar o que se observa (fotografias,
vídeos, áudios, registros escritos) construir narrativas coletivas a partir
destes registros, repensar os espaços,materiais e planejar as próximas vivências
de modo a potencializar as aprendizagens.
“A documentação
pode ser entendida como reflexão coletiva sobre a vivência proposta, processo
ligado à programação e à avaliação, à experiência, mas dotado de
especificidades: a documentação não é o projeto, nem a experiência; é algo
além,(...)um processo de reflexão sobre a prática e de formação contínua.
(Marques, 2015)
Portanto, a poética de “escutar com os
olhos”, além de dar visibilidade ao que acontece
na unidade, permite uma flexibilidade no planejamento, reelaboração de
vivências, levando em conta os novos saberes dos bebês, crianças e professores.
Ou seja, implica que cada professor se
torne um pesquisador, um profissional reflexivo, o fio condutor entre as
experiências vividas e uma discussão crítica sobre a prática para a construção
desta tão ansiada Pedagogia para a Primeira Infância.
Franco. Dalva de Souza, “As creches na educação paulistana
- 2002 a
2012” , Campinas,
2015.
Fochi. Paulo Sérgio, “mas o que os bebês fazem no
berçário, hein?”Porto Alegre, 2013.
Marques. Amanda Cristina Teagno Lopes, “A Documentação
Pedagógica no Cotidiano da Educação Infantil: Estudo de Caso em Pré-Escolas Públicas ”,
São Paulo, 2015.
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de
Orientação Técnica. Currículo Integrador da Infância Paulistana. São Paulo:
SME/DOT, 2015.
_____________. Secretaria Municipal de Educação.
Diretoria de Orientação Técnica. Orientação normativa nº 01: Avaliação na
Educação infantil : Aprimorando os Olhares – Secretaria Municipal de Educação.
– São Paulo: SME / DOT, 2014.
1 Maria Cristina dos Santos
Coordenador Pedagógico na EMEI
Prof.ªDoraci dos Santos Ramos, Formadora na DIPED DRE-Guaianases Educação
Infantil, Coordenadora no Instituto Para além do Cuidar
2
Coordenador Pedagógico na CEU EMEF
Prof. Dr. Paulo Gomes Cardim, Formadora na DIPED DRE-Guaianases Educação
Infantil, Formadora no Instituto Para Além do Cuidar